Peru estuda exigir visto a mexicanos para conter narcotráfico

Publicado em:  16/01/2012

“É justo pedirmos visto para os cidadãos mexicanos para controlar e saber qual é a finalidade de sua visita ao Peru”, declarou Peláez. O chanceler peruano, Rafael Roncagliolo, adiantou que a medida “pode ser estudada”, mas explicou que a política do país nessa matéria é “liberal”, com o objetivo de incentivar o turismo.

Diferente do Peru, o México exige visto dos peruanos inclusive para turismo. Somente estão isentos desse requisito os peruanos que já têm visto dos EUA.

A incursão das máfias mexicanas no Peru, principal produtor de coca e de cocaína no mundo, segundo os EUA, não é um fenômeno novo, remontando ao final da década de 1990. De acordo com o pesquisador Jaime Antezana, entre 2002 e 2003 se instalou no Peru o cartel de Tijuana; e a partir de 2004 chegou o de Sinaloa, que hoje tem presença preponderante. Essas organizações concentraram sua operação nos portos do litoral peruano, usado como via preferencial para a saída de suas remessas.

“Primeiro tomaram o controle dos portos da costa norte, principalmente Paita e Chimbote, mas também El Callao”, explica o especialista. “Depois se expandiram para o sul. Não estão nos vales, que são as zonas de produção de coca, mas são principalmente compradores e exportadores. Estão interessados no controle da qualidade e do volume.”

Nos últimos anos as autoridades peruanas apreenderam várias grandes remessas de cocaína atribuídas a cartéis mexicanos, mas os especialistas concordam que só se consegue deter uma pequena fração do que sai. Em 2011, de acordo com os dados do Ministério do Interior, a polícia apreendeu 135 toneladas de droga. A atividade dos cartéis do narcotráfico também fica em evidência através de crimes esporádicos que, segundo a polícia, são motivados por ajustes de contas entre as organizações.

Jaime Antezana considera que a proposta do promotor pode servir para controlar melhor a atividade dos mafiosos mexicanos no Peru. “Durante anos os cartéis operaram com quase total liberdade. Em 11 anos foram relatadas pouco mais de 120 detenções”.

“Pedir visto pode ser entendido como um ato de reciprocidade”, acrescenta Antezana. “Por outro lado, a presença dos cartéis mexicanos é cada vez mais visível. Atualmente são compradores de grande parte da cocaína produzida no Peru, e a exportam para a Europa, a Ásia e inclusive outros países da América Latina. É necessário que exista um filtro, mas deve ser acompanhado de outros mecanismos.”

O México se pronunciou sobre o delicado assunto através de seu embaixador em Lima, Manuel Rodríguez Arriaga. Em uma entrevista concedida ao jornal “El Comercio”, o diplomata afirmou que a luta contra o tráfico de entorpecentes exige “uma ação mais concertada dos governos” e não medidas unilaterais. Disse ainda que “restringir o movimento de pessoas através de vistos, quando estes não se justificam totalmente, acaba inibindo também os negócios e os intercâmbios comerciais e, de alguma forma, os investimentos”.

O embaixador destacou que no ano passado cerca de 40 mil mexicanos entraram pelas fronteiras peruanas. “Também é preciso ver as coisas em termos de proporções para poder equilibrar o problema”.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

 


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