Suicídio: uma questão de saúde pública

Publicado em:  21/05/2012

O psiquiatra Sivan Mauer, vice-presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatria define o suicídio como o fim de uma doença, muitas vezes associada com a depressão, transtorno de humor e esquizofrenia

Todos os meses mais de 200 mil pessoas no Brasil acessam o site Google e buscam o termo suicídio. Outros milhares são mais específicos e buscam “como cometer suicídio”, “suicídio sem dor”, “quero cometer suicídio”, entre outros. Sobre o tema, prevalece o silêncio, o que não significa que os casos não continuem ocorrendo: entre 2006 e 2012 foram 196 suicídios na área de abrangência da 10.ª Regional de Saúde em Cascavel e o Ministério da Saúde estima que para cada caso de suicídio, existam dez tentativas cujo registro não é feito.

Muito além de uma decisão individual da pessoa sobre a própria vida, ideias ou atitudes suicidas geralmente são consequências drásticas de doenças mentais. Mesmo sendo menos visíveis que um câncer, uma infecção ou um braço quebrado as doenças mentais existem e seu tratamento faz parte do direito constitucional à saúde, e, portanto, são necessárias políticas públicas de auxílio à família e ao sujeito.

O psiquiatra Sivan Mauer, vice-presidente da SPP (Sociedade Paranaense de Psiquiatria) define o suicídio como o fim de uma doença, muitas vezes associada com a depressão bipolar, transtorno de humor e esquizofrenia. “O problema é que se depender do atendimento público é bem provável que a pessoa sequer tenha um diagnóstico antes de chegar ao extremo de tentar suicídio”, alerta o médico, destacando que a maioria dos serviços de saúde não está preparada para identificar e acompanhar estes casos.

“Quando o paciente de um cardiologista tem um ataque, isso é considerado uma emergência médica e, se ele morre, considera-se que o médico ‘perdeu’ o paciente. Mas quando o paciente de psiquiatria morre por suicídio, não se vê da mesma forma. É mais fácil culpar o sujeito do que a falta de uma assistência especializada adequada”, exemplifica. No entendimento de Sivan o sistema público de Saúde Mental é falho, pois envolve mais questões políticas do que médicas, além disso, falta um protocolo que garanta estatísticas confiáveis.

Levar a sério

Os especialistas são unânimes em dos casos, o sujeito que pensa em cometer suicídio dá pista de sua intenção. “A família e os amigos precisam estar atentos e levar estas ameaças a sério. Não dá para pensar que é só uma forma de chamar atenção, é preciso muito diálogo e buscar auxílio de especialista”, afirma a médica Lilimar Mori, da vigilância em Saúde da 10.ª Regional.

Alguns serviços estão disponíveis pelo Governo Federal através dos Caps (Centros de Atenção Psicossocial), para atendimentos específicos em saúde mental. Pelo custo de manutenção, o serviço ainda não chegou aos municípios menores. Nos 399 municípios do Paraná são cerca de 90 Caps. Nos 25 municípios de abrangência da 10.ª Regional de Saúde, apenas Cascavel dispõe do serviço. São três deles: um destinado ao atendimento de crianças e adolescentes com transtorno mental (o Caps I); outro para atendimento de crianças e adolescentes viciados em álcool ou outras drogas (o Caps AD); e ainda um serviço para atendimento de adultos com transtornos mentais (o Caps III).

Nestes serviços há acompanhamento multidisciplinar e inserção em oficinas terapêuticas, para tratamentos de média e longa duração.

Já o atendimento ambulatorial de psicologia e psiquiatria é realizado no CASM (Centro de Atendimento em Saúde Mental). A coordenadora da divisão de Saúde Mental no município, Iara Agnes Bach, comenta que os casos onde a pessoa fala em suicídio ou casos de tentativa de suicídio têm preferência no atendimento. “Há total prioridade, o primeiro atendimento normalmente é feito em poucos dias e também há acompanhamento para a família”.

O serviço de Saúde Mental possui duas grandes dificuldades: a escassez de vagas para internamento, quando este recurso é indicado, e a dificuldade de contratação de psiquiatras para atuação na rede pública. Para internamento na região de Cascavel, a principal referência é o Hospital Filadélfia em Marechal Cândido Rondon, que havia deixado de atender ao SUS (Sistema Único de Saúde) em janeiro, mas voltou a receber pacientes no final de abril, ainda com algumas restrições de número de pacientes e tipo de atendimento, não serão atendidos dependentes químicos, por exemplo. Sobre o médico psiquiatra, o município já chegou a ter apenas um contratado, atualmente são três, mas a rotatividade de profissionais é grande.

Pesquisa

Cinco municípios da 10.ª Regional de Saúde passaram a integrar uma pesquisa que busca investigar a investigar associação entre suicídio e contato prolongado com agrotóxicos. “Percebemos que o contato prolongado com estes materiais é capaz de trazer uma intoxicação crônica, com problemas associados e entre eles está a depressão que conduz ao suicídio”, detalha a médica Lilimar Mori. A pesquisa ainda está em fase inicial e será desenvolvida por meio da aplicação de questionários e análise de casos.

Brasil

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil encontra-se no grupo de países com taxas baixas de suicídio. No entanto, como se trata de um país populoso, está entre os dez países com maiores números absolutos de suicídio. O número de suicídios entre homens é quase quatro vezes maior do que entre mulheres.

“É um mito acreditar que falar de suicídio irá aumentar os índices”

Nos últimos dias em Cascavel, foram diversas ocorrências envolvendo o assunto. De acordo com a CGN (Central Gazeta de Notícias) somente na sexta-feira (18), dois casos chamaram a atenção, em um deles um rapaz morreu em decorrência a um tiro com arma de fogo e em outra uma mãe conseguiu evitar que o filho em depressão se enforcasse.

Para o psiquiatra Sivan Mauer, vice-presidente da SPP (Sociedade Paranaense de Psiquiatria) não existe uma pesquisa que confirme que ‘falar’ sobre o suicídio gere um aumento nos casos, o que ocorre é que o problema existe e deve ser discutido pela sociedade e pelo governo na busca de soluções. O psiquiatra relata que em outros países existe muita divulgação sobre os serviços públicos de apoio à pessoa com ideia suicida. “Fui a um congresso nos Estados Unidos e chegando lá, a primeira coisa que vi foi uma placa dizendo, ‘se você tem ideação suicida ligue para tal número’, aqui o tema não é abordado. É um mito acreditar que falar de suicídio irá aumentar os índices”, garante.

A coordenadora da divisão de Saúde Mental no município, Iara Agnes Bach confirma que os casos de suicídio, tentativas de suicídio ou ameaças, preocupam e que é possível perceber causas associadas. “Os casos que chegam se concentram em adolescentes e adultos jovens. Temos associação com quadros depressivos, bullying e problemas nas relações familiares. O importante é sempre estar atento. Todos os serviços de saúde estão orientados e acolher o paciente e encaminhá-lo para tratamento adequado”, garante.


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