Dobra o número de empresas que exigem antidoping aos funcionários

Publicado em:  09/12/2012

<p>&nbsp;</p> <div> Um teste de conhecimentos gerais, uma din&acirc;mica em grupo, uma prova dissertativa e duas entrevistas. Depois disso, o processo de admiss&atilde;o para a vaga de engenheiro qu&iacute;mico em uma ind&uacute;stria de fertilizantes em Cubat&atilde;o (SP) parecia conclu&iacute;do. &quot;Mas fui avisado de que deveria fazer o teste de drogas&quot;, lembra o ent&atilde;o candidato, de 27 anos, que preferiu n&atilde;o se identificar.</div> <div> &nbsp;</div> <div> A exig&ecirc;ncia por exames toxicol&oacute;gicos est&aacute; cada vez mais comum entre empresas brasileiras. Levantamento feito pela s&atilde;opaulo com dados do Laborat&oacute;rio de An&aacute;lises Toxicol&oacute;gicas da USP e do Maxilabor -os &uacute;nicos que realizam todo o procedimento em territ&oacute;rio nacional, inclusive para outros laborat&oacute;rios- aponta que o n&uacute;mero de empresas que monitoram o consumo de drogas entre funcion&aacute;rios e candidatos a vagas de emprego mais que dobrou neste ano em rela&ccedil;&atilde;o a 2011. Consequentemente, tamb&eacute;m cresceu o n&uacute;mero de testes realizados e positivos flagrados em 2012.</div> <div> &nbsp;</div> <div> O aumento na procura dos exames motivou o Conselho Federal de Medicina a emitir, no m&ecirc;s passado, um parecer sobre o tema. &quot;N&atilde;o &eacute; eticamente aceit&aacute;vel&quot;, diz Hermann von Tiesenhausen, conselheiro e relator do parecer 26/12, que considera o exame &quot;invas&atilde;o de privacidade&quot;. O argumento tamb&eacute;m &eacute; defendido por juristas contr&aacute;rios ao antidoping corporativo.</div> <div> &nbsp;</div> <div> Realizado por uma empresa brasileira pela primeira vez em 1992, o exame toxicol&oacute;gico &eacute; capaz de detectar a ingest&atilde;o ou a exposi&ccedil;&atilde;o a subst&acirc;ncias t&oacute;xicas ou drogas, por meio de an&aacute;lise com fluidos corporais ou amostras biol&oacute;gicas. No pa&iacute;s, os testes com urina, saliva e pelos s&atilde;o os mais usados. O consumo de at&eacute; dez drogas pode ser verificado.</div> <div> &nbsp;</div> <div> At&eacute; novembro, cerca de 500 empresas haviam contratado os servi&ccedil;os do Maxilabor e da USP. Em 2011, foram 230. Pelas contas de Maur&iacute;cio Yonamine, diretor do laborat&oacute;rio da USP, o Estado de S&atilde;o Paulo responde por 40% da demanda. &quot;Principalmente as empresas de transporte rodovi&aacute;rio.&quot;</div> <div> &nbsp;</div> <div> Al&eacute;m delas, a ind&uacute;stria e os setores de seguran&ccedil;a e avia&ccedil;&atilde;o s&atilde;o os que mais monitoram os empregados. Concursos p&uacute;blicos como o da Pol&iacute;cia Federal e o do Corpo de Bombeiros tamb&eacute;m exigem o antidoping.</div> <div> &nbsp;</div> <div> &quot;Precisei fazer o teste no pr&eacute;-admissional&quot;, conta um piloto de avi&atilde;o, de 30 anos, que tamb&eacute;m preferiu manter o anonimato. &quot;Uma semana antes [do teste], havia cheirado coca&iacute;na. Estava tenso. Achei que seria pego, mas n&atilde;o deu nada&quot;, diz ele, que foi contratado por uma empresa de avia&ccedil;&atilde;o comercial que atua em S&atilde;o Paulo.</div> <div> &nbsp;</div> <div> Uma resolu&ccedil;&atilde;o de 2011 da Anac (Ag&ecirc;ncia Nacional de Avia&ccedil;&atilde;o Civil) prev&ecirc; exames antidoping para pilotos, mec&acirc;nicos e outros profissionais do setor. As empresas t&ecirc;m at&eacute; o segundo semestre de 2013 para iniciar os testes.</div> <div> &nbsp;</div> <div> FLAGRANTE</div> <div> &nbsp;</div> <div> Neste ano, 53.400 exames toxicol&oacute;gicos foram feitos no Brasil. Quantidade expressiva se comparada aos cerca de 20 mil feitos em 2011, mas pouco significativa em rela&ccedil;&atilde;o ao 1,5 milh&atilde;o de exames anuais dos EUA, segundo o Instituto Brasileiro de Estudo e Avalia&ccedil;&atilde;o Toxicol&oacute;gica. Como no caso do piloto e do engenheiro entrevistados, &quot;cerca de 40% dos testes s&atilde;o feitos na admiss&atilde;o&quot;, afirma Anthony Wong, toxicologista e diretor do Maxilabor.</div> <div> &nbsp;</div> <div> Apesar de n&atilde;o responderem pela maioria dos exames, os aspirantes a uma vaga s&atilde;o os mais flagrados --at&eacute; 27% dos candidatos s&atilde;o descartados pelo uso de il&iacute;citos. A incid&ecirc;ncia &eacute; bem inferior entre os funcion&aacute;rios submetidos ao antidoping rotineiro, 4,3%.</div> <div> &nbsp;</div> <div> A coca&iacute;na e seus derivados (crack e oxi) lideram as ocorr&ecirc;ncias de flagrante. Entre os candidatos a uma vaga, 71% daqueles cujo resultado deu positivo s&atilde;o pegos com uma ou mais dessas subst&acirc;ncias. J&aacute; entre os contratados, a m&eacute;dia &eacute; de 25%. &quot;A maconha vem em segundo&quot;, diz Wong.</div> <div> &nbsp;</div> <div> Para o presidente da Associa&ccedil;&atilde;o dos Advogados Trabalhistas de S&atilde;o Paulo, Claudio Peron Ferraz, o exame, para sele&ccedil;&atilde;o, fere o direito do indiv&iacute;duo. &quot;Viola o direito &agrave; intimidade de cada um.&quot; No entendimento do jurista e de Estev&atilde;o Mallet, professor de direito trabalhista da USP, esse antidoping quebra o sigilo m&eacute;dico do paciente.</div> <div> &nbsp;</div> <div> Para Mallet, caso algu&eacute;m seja flagrado, a informa&ccedil;&atilde;o pode ser repassada para profissionais n&atilde;o m&eacute;dicos. &quot;N&atilde;o h&aacute; problema na comunica&ccedil;&atilde;o entre m&eacute;dicos, mas outros profissionais podem saber [do resultado]&quot;, explica ele, que admite que a discuss&atilde;o sobre os exames &eacute; controversa.</div> <div> &nbsp;</div> <div> Os laborat&oacute;rios garantem o sigilo dos pacientes, j&aacute; que a pessoa &eacute; identificada por um c&oacute;digo de barras.</div> <div> &nbsp;</div> <div> &quot;O exame n&atilde;o &eacute; anti&eacute;tico, porque n&atilde;o h&aacute; uso seguro de droga. O impacto do uso individual reflete na coletividade&quot;, rebate Ana Cec&iacute;lia Marques, psiquiatra da Associa&ccedil;&atilde;o Brasileira de Estudos do &Aacute;lcool e Outras Drogas.</div> <div> &nbsp;</div> <div> Parte da pol&ecirc;mica pode ser atribu&iacute;da &agrave; falta de leis. &quot;Nossa legisla&ccedil;&atilde;o trabalhista &eacute; um tanto defasada&quot;, diz Mallet. A lacuna jur&iacute;dica tamb&eacute;m cria situa&ccedil;&otilde;es &quot;delicadas&quot;.</div> <div> &nbsp;</div> <div> Um empregado em uma metal&uacute;rgica de Piracicaba (SP) afirma que &quot;mesmo n&atilde;o consumindo drogas&quot; sente-se coagido. &quot;N&atilde;o posso negar. O que a empresa vai pensar caso n&atilde;o fa&ccedil;a o teste?&quot;, diz ele, 43, que faz exames de urina rotineiramente.</div> <div> &nbsp;</div> <div> Evitar a &quot;coa&ccedil;&atilde;o&quot; &eacute; outra justificativa do Conselho Federal de Medicina contra o exame. E, apesar da falta de amparo jur&iacute;dico, o conselho diz que a exig&ecirc;ncia dos exames por m&eacute;dicos das empresas &eacute; pass&iacute;vel de puni&ccedil;&atilde;o. &quot;S&atilde;o cinco penas que podem ser aplicadas ao m&eacute;dico: advert&ecirc;ncia confidencial, censura confidencial, censura p&uacute;blica, suspens&atilde;o do exerc&iacute;cio profissional at&eacute; 30 dias e a cassa&ccedil;&atilde;o do m&eacute;dico&quot;, explica Von Tiesenhausen.</div> <div> &nbsp;</div> <div> O laborat&oacute;rio da USP, h&aacute; 20 anos no mercado, e o Maxilabor, h&aacute; 13 anos, contam que nunca foram acionados na Justi&ccedil;a por um flagrante. Ao contr&aacute;rio da atitude dos americanos, no Brasil o positivo n&atilde;o costuma resultar em demiss&atilde;o. S&oacute; uma pessoa, diz Wong, foi demitida ap&oacute;s exame no Maxilabor.</div>


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