Trabalho obrigatório no SUS é questionado por estudantes e instituições particulares

Publicado em:  09/07/2013

<p>A medida que obriga estudantes de medicina a atuar por dois anos no Sistema &Uacute;nico de Sa&uacute;de (SUS), anunciada segunda-feira (8) como parte do Programa Mais M&eacute;dicos, tem sido alvo de questionamentos por estudantes e institui&ccedil;&otilde;es de educa&ccedil;&atilde;o. A obrigatoriedade &eacute; vista com ressalvas. Os dois anos a mais antes do diploma e do registro profissional podem ser um desest&iacute;mulo para os alunos. Quem trabalha no setor diz que &eacute; preciso definir bem as regras da exig&ecirc;ncia para que nem a rede p&uacute;blica e nem os profissionais sejam prejudicados. Pela medida provis&oacute;ria (MP 621/2013) enviada pelo governo ao Congresso Nacional, a partir de 2015 os alunos de medicina dever&atilde;o trabalhar por dois anos na aten&ccedil;&atilde;o b&aacute;sica e na urg&ecirc;ncia e emerg&ecirc;ncia do SUS, chamado de segundo ciclo. Com isso, o curso passar&aacute; de seis anos para oito anos de dura&ccedil;&atilde;o. A medida &eacute; v&aacute;lida para faculdades p&uacute;blicas e privadas e garante, durante o per&iacute;odo, o pagamento de uma bolsa tanto para estudantes quanto para professores tutores.</p><p>Para a coordenadora do N&uacute;cleo de Estudo em Sa&uacute;de P&uacute;blica da Universidade de Bras&iacute;lia (UnB), Maria F&aacute;tima de Sousa, a medida proporciona uma a&ccedil;&atilde;o estruturante necess&aacute;ria ao ensino dos futuros m&eacute;dicos. &quot;Esses profissionais est&atilde;o sendo formados para um modelo de sa&uacute;de que n&atilde;o precisamos mais. Precisamos de m&eacute;dicos generalistas para trabalhar nas comunidades e a forma&ccedil;&atilde;o hoje est&aacute; dirigida a especialidades, o que precisa ser mudado&quot;, diz, acrescentando que a medida &eacute; um passo importante para isso.</p><p>No entanto, h&aacute; quem diga que os dois anos a mais podem desestimular os candidatos. &quot;N&oacute;s j&aacute; temos dois anos de internato [quando o estudante atua em hospitais sob supervis&atilde;o de um professor] que, no caso das escolas p&uacute;blicas, j&aacute; s&atilde;o dois anos atuando no SUS&quot;, diz a aluna do quarto semestre de medicina da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Vit&oacute;ria Gimenes. Pelo texto da MP, os dois anos finais n&atilde;o dispensam o estudante do internato, j&aacute; previsto nas diretrizes curriculares nacionais.</p><p>Vit&oacute;ria n&atilde;o &eacute; contra a atua&ccedil;&atilde;o na sa&uacute;de p&uacute;blica ap&oacute;s os seis anos de forma&ccedil;&atilde;o, mas defende que n&atilde;o seja obrigat&oacute;rio. &quot;Acho certo trabalhar no SUS, mas n&atilde;o &eacute; o ideal ter mais dois anos de obrigatoriedade. J&aacute; temos mais quatro anos de resid&ecirc;ncia, s&atilde;o dez anos de forma&ccedil;&atilde;o e est&atilde;o s&oacute; aumentando isso&quot;.</p><p>A estudante do sexto ano de medicina da Universidade Federal do Paran&aacute; (UFPR) Regina Vallego diz que, na faculdade, falta pr&aacute;tica em urg&ecirc;ncia e emerg&ecirc;ncia, uma demanda dos estudantes, por&eacute;m &eacute; preciso ver em que condi&ccedil;&otilde;es a nova iniciativa ser&aacute; feita. &quot;S&oacute; porque faltam m&eacute;dicos nessas &aacute;reas v&atilde;o colocar todos os alunos para trabalhar nelas? Ser&aacute; que eles t&ecirc;m condi&ccedil;&otilde;es? O per&iacute;odo contar&aacute; como parte da resid&ecirc;ncia. Ser&aacute; suficiente? N&atilde;o cair&aacute; o n&iacute;vel da resid&ecirc;ncia?&quot;, pergunta a estudante.</p><p>Regina tamb&eacute;m contesta a autonomia dos alunos. &quot;S&atilde;o estudantes, portanto n&atilde;o podem tomar decis&otilde;es sozinhos, como &eacute; poss&iacute;vel na resid&ecirc;ncia m&eacute;dica. Esse alunos ter&atilde;o algum poder de decis&atilde;o ou tudo ter&aacute; que passar pelo aval do supervisor?&quot;.</p><p>A tutoria &eacute; um dos pontos que preocupa as faculdades particulares. &quot;A supervis&atilde;o est&aacute; vinculada &agrave; institui&ccedil;&atilde;o de ensino em que o aluno estuda. Tem que ter uma contrapartida para a institui&ccedil;&atilde;o. Quem vai arcar com esses custos a mais do professor? Isso tem que ser melhor definido&quot;, diz o diretor executivo da Associa&ccedil;&atilde;o Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes), S&oacute;lon Caldas. &quot;Fica subentendido que o governo quer encontrar um mecanismo para obrigar o m&eacute;dico a prestar servi&ccedil;o para o governo. Temos v&aacute;rios questionamentos sobre esse assunto&quot;, acrescenta.</p><p>A Associa&ccedil;&atilde;o Nacional dos Dirigentes das Institui&ccedil;&otilde;es Federais de Ensino Superior (Andifes) n&atilde;o se posicionou sobre a proposta. Na pr&oacute;xima semana, haver&aacute; reuni&atilde;o do conselho pleno da entidade, quando o segundo ciclo no ensino m&eacute;dico ser&aacute; discutido. A Uni&atilde;o Nacional dos Estudantes (UNE) tamb&eacute;m n&atilde;o tem um posicionamento oficial at&eacute; o momento, pois avalia a medida.</p><p>A MP estabelece que o Conselho Nacional de Educa&ccedil;&atilde;o (CNE) tem 180 dias para regulamentar o trabalho dos alunos no SUS. O conselheiro do CNE Jos&eacute; Fernandes de Lima diz que ser&aacute; formada uma comiss&atilde;o para analisar o tema. Ser&atilde;o feitas audi&ecirc;ncias p&uacute;blicas, al&eacute;m do debate interno na C&acirc;mara de Educa&ccedil;&atilde;o Superior. O CNE vai definir as atividades, o n&uacute;mero de horas, a rela&ccedil;&atilde;o entre tutor e estudante, a forma&ccedil;&atilde;o do tutor e a rela&ccedil;&atilde;o entre estudante e hospital. As poss&iacute;veis altera&ccedil;&otilde;es na MP feitas pelo Congresso Nacional ser&atilde;o consideradas, explica o conselheiro.</p><p>As principais entidades m&eacute;dicas do pa&iacute;s criticaram a iniciativa do governo.</p><p>Nessa quarta-feira (10), o ministro da Sa&uacute;de, Alexandre Padilha, disse que o trabalho no SUS vai formar m&eacute;dicos com vis&atilde;o humanista e menos dependentes de m&aacute;quinas e exames para atender.</p><p><em>Fonte: Ag&ecirc;ncia Brasil</em></p>


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