Seguir em frente

Publicado em:  03/09/2013

<p>Ao entrar na garagem, estranhei um carro da Pol&iacute;cia T&eacute;cnica estacionado em frente ao pr&eacute;dio. Perguntei ao zelador o que havia acontecido e a resposta foi evasiva: &quot;foi um acidente, dona Cl&aacute;udia&quot;. N&atilde;o satisfeita, quis saber mais.</p><p>Meio constrangido, ele contou que mo&ccedil;a do d&eacute;cimo andar tinha se jogado do apartamento durante a madrugada. Ningu&eacute;m percebeu at&eacute; que um morador abriu a janela pela manh&atilde; e viu um corpo estendido sobre a laje do sal&atilde;o de festas.</p><p>A mulher tinha 42 anos, problemas com &aacute;lcool e diagn&oacute;stico de depress&atilde;o cr&ocirc;nica. Morava com o pai idoso e j&aacute; havia tentado outras duas vezes o suic&iacute;dio.</p><p>Bate uma mistura de tristeza e impot&ecirc;ncia quando algu&eacute;m que mora seis andares abaixo do seu apartamento n&atilde;o v&ecirc; mais raz&atilde;o na vida e decide acabar com ela. Nesses momentos, tamb&eacute;m fica claro o desconforto que muitas pessoas sentem em falar sobre o tema. Vi isso estampado no rosto do zelador.</p><p>Por que falar sobre isso agora? Porque falar &eacute; o primeiro passo para a preven&ccedil;&atilde;o. No Brasil, o suic&iacute;dio &eacute; considerado um problema de sa&uacute;de p&uacute;blica. Ao menos 25 pessoas se matam diariamente e, segundo pesquisa da Unicamp, 17% dos brasileiros pensaram seriamente em tirar a pr&oacute;pria vida pelo menos uma vez.</p><p>E o que poucos sabem: mais de 90% dos casos de suic&iacute;dio podem ser evitados. A Associa&ccedil;&atilde;o Internacional de Preven&ccedil;&atilde;o do Suic&iacute;dio definiu o tema &quot;Preconceito: uma barreira &agrave; preven&ccedil;&atilde;o do suic&iacute;dio&quot;, como a bandeira deste ano a ser levantada no dia 10 de setembro, Dia Internacional de Preven&ccedil;&atilde;o do Suic&iacute;dio.</p><p>Tamb&eacute;m como parte dessa estrat&eacute;gia, o CVV (Centro de Valoriza&ccedil;&atilde;o da Vida) criou o movimento &quot;Isso me faz seguir em frente&quot;, que busca estimular as pessoas a refletirem sobre suas emo&ccedil;&otilde;es e motiva&ccedil;&otilde;es para a vida.</p><p>Originalmente on-line, o movimento tem como base a <a href="https://www.facebook.com/issomefazseguir" target="_blank">fanpage no Facebook</a>, na qual os internautas compartilham as suas motiva&ccedil;&otilde;es para seguirem em frente, que podem ser pessoas, causas, sensa&ccedil;&otilde;es ou h&aacute;bitos.</p><p>Pode-se simplesmente escrever na linha do tempo ou baixar uma das placas produzidas para o movimento --dispon&iacute;veis no &aacute;lbum da pr&oacute;pria p&aacute;gina--, escrever sua motiva&ccedil;&atilde;o, tirar uma foto e enviar como mensagem na fanpage. A equipe que administra a p&aacute;gina publica a foto na sequ&ecirc;ncia.</p><p>A inten&ccedil;&atilde;o &eacute; estimular as pessoas a buscar o equil&iacute;brio e encontrar alternativas para as mais diversas situa&ccedil;&otilde;es da vida. E abrir um canal para se falar abertamente sobre o assunto, colocar-se &agrave; disposi&ccedil;&atilde;o de quem busca ajuda e, quando for o caso, entender que &eacute; poss&iacute;vel pedir socorro e mudar o rumo de sua vida.</p><p>&quot;Nem sempre conseguimos identificar facilmente o que nos motiva ou nossos objetivos de vida, pois n&atilde;o temos o costume de realizar essa autoavalia&ccedil;&atilde;o. Todos n&oacute;s temos bons motivos para viver, o que ocorre &eacute; que, eventualmente, temos dificuldade em fazer essa identifica&ccedil;&atilde;o&quot;, diz um volunt&aacute;rio do CVV.</p> <div class="biography"> <img alt="Avener Prado/Folhapress" height="70" src="http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/12304341.jpeg" width="70" /><p><b>Cl&aacute;udia Collucci</b> &eacute; rep&oacute;rter especial da <b>Folha</b>, especializada na &aacute;rea da sa&uacute;de. Mestre em hist&oacute;ria da ci&ecirc;ncia pela PUC-SP e p&oacute;s graduanda em gest&atilde;o de sa&uacute;de pela FGV-SP, foi bolsista da</p> <div data-cid="1803" data-kw="university" style="display: inline-block; width: auto; height: auto; text-decoration: underline; border-bottom: 1px solid; padding-bottom: 1px; color: rgb(28, 125, 255); cursor: pointer;"> University</div> of Michigan (2010) e da Georgetown University (2011), onde pesquisou sobre conflitos de interesse e o impacto das novas tecnologias em sa&uacute;de. &Eacute; autora dos livros &quot;Quero ser m&atilde;e&quot; e &quot;Por que a gravidez n&atilde;o vem?&quot; e coautora de &quot;Experimentos e Experimenta&ccedil;&otilde;es&quot;. Escreve &agrave;s quartas, no site.</div> <p>&nbsp;</p>


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