Combater o tabu para evitar o suicídio

Publicado em:  10/09/2013

<p class="title">&nbsp;</p> <div class="fine_line"> <p class="eye"><b>Investir em estudos sobre o suic&iacute;dio nos permitir&aacute; melhor compreend&ecirc;-lo e preveni-lo. Lutar contra esse estigma salvar&aacute; muitas vidas</b></p></div> <p>O suic&iacute;dio &eacute; um tabu social, mas &eacute; tamb&eacute;m um problema de sa&uacute;de p&uacute;blica --em escala global.</p><p>Um milh&atilde;o de pessoas se suicidam a cada ano em todo o mundo, o que representa uma morte a cada 1 minuto e 9 segundos. No Brasil, calcula-se que sejam pelo menos 9.000 &oacute;bitos por ano, 25 por dia --um n&uacute;mero certamente subestimado.</p><p>No nosso pa&iacute;s, tivemos um aumento de 30% da mortalidade por suic&iacute;dio entre jovens, principalmente homens, nas &uacute;ltimas duas d&eacute;cadas. S&atilde;o milhares de brasileiros que perdemos todos os anos. Mas muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas.</p><p>Todos n&oacute;s conhecemos algu&eacute;m pr&oacute;ximo que morreu por suic&iacute;dio, ou fez uma tentativa grave. A despeito disso, n&atilde;o falamos no assunto, ou o fazemos &agrave; boca pequena.</p><p>&Eacute; um assunto proibido. N&atilde;o temos grande cobertura por parte da m&iacute;dia, que, na maioria dos casos, acredita, erroneamente, que abordar o assunto incentivaria suic&iacute;dios.</p><p>N&atilde;o existem campanhas de sa&uacute;de p&uacute;blica para tratar o tema. Nosso pa&iacute;s, ao contr&aacute;rio de outros, ainda n&atilde;o tirou do papel sua estrat&eacute;gia nacional de preven&ccedil;&atilde;o ao suic&iacute;dio.</p><p>Quando um assunto &eacute; tabu, n&atilde;o o discutimos abertamente, n&atilde;o estudamos, n&atilde;o <nobr><a class="FAtxtL" href="http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/128310-combater-o-tabu-para-evitar-o-suicidio.shtml#" id="FALINK_1_0_0">pesquisamos</a></nobr>. Jogamos para debaixo do tapete.</p><p>De onde surgiu esse estigma, esse tabu? O suic&iacute;dio existe desde que existe o ser humano. Temos relatos de suic&iacute;dios nas mais antigas e variadas culturas. Na nossa cultura, ocidental crist&atilde;, o suic&iacute;dio se transformou pouco a pouco em uma quest&atilde;o problem&aacute;tica.</p><p>Santo Agostinho, ao ser nomeado bispo de Hippo, foi confrontado com a igreja don&aacute;stica, um movimento depois considerado her&eacute;tico que venerava como santas as pessoas que se jogavam de alturas para atingir o c&eacute;u.</p><p>Para enfrent&aacute;-los, santo Agostinho, no &quot;Cidade de Deus&quot;, vai dar nova abordagem ao sexto mandamento --&quot;n&atilde;o matar&aacute;s&quot;-- com uma especifica&ccedil;&atilde;o: &quot;Nem a outro nem a si pr&oacute;prio&quot;. Essa vis&atilde;o ganha for&ccedil;a, e o suic&iacute;dio se transforma n&atilde;o apenas em pecado, mas no pior dos pecados, a grande sina.</p><p>Por exemplo, o suicida n&atilde;o teria direito &agrave;s honras f&uacute;nebres, n&atilde;o poderia ser enterrado em cemit&eacute;rio crist&atilde;o. Quem tentasse suic&iacute;dio seria excomungado. Essa vis&atilde;o impregnou cora&ccedil;&otilde;es e mentes.</p><p>Nos v&aacute;rios Estados nacionais que v&atilde;o surgindo na Europa, os c&oacute;digos penais previam puni&ccedil;&atilde;o ao suicida --por exemplo, pelo confisco dos bens, ou esquartejando o corpo do suicida. Quem tentasse suic&iacute;dio poderia ser preso e, paradoxalmente, at&eacute; condenado &agrave; morte.</p><p>Hoje, a maioria dos Estados n&atilde;o criminaliza mais o suic&iacute;dio, embora alguns poucos, infelizmente, ainda o fa&ccedil;am.</p><p>Sabemos hoje que praticamente 100% dos suicidas t&ecirc;m um transtorno psiqui&aacute;trico que muitas vezes n&atilde;o fora, entretanto, diagnosticado ou corretamente tratado. O sofrimento causado pela doen&ccedil;a psiqui&aacute;trica e outros fatores podem levar a pessoa a pensar em se matar.</p><p>Identificar rapidamente pessoas com transtornos psiqui&aacute;tricos, principalmente depress&atilde;o, pessoas que falam em se matar, e sugerir a elas um tratamento adequado, o mais rapidamente poss&iacute;vel, &eacute; algo que todos podemos fazer. Pressionar o poder p&uacute;blico para estabelecer campanhas e estrat&eacute;gias de preven&ccedil;&atilde;o, com segmento de todas as pessoas que fizerem tentativas graves de suic&iacute;dio, todos n&oacute;s devemos fazer. Investir em mais estudos e pesquisas sobre o tema nos permitir&aacute; melhor compreend&ecirc;-lo e prevenir o ato.</p><p>Discutir o assunto &agrave; luz do dia &eacute; nossa obriga&ccedil;&atilde;o. Lutar contra esse estigma, contra esse tabu, salvar&aacute; muitas vidas.</p><p>Da&iacute; a import&acirc;ncia de se instituir, a partir deste ano, a data 10 de setembro como dia mundial de preven&ccedil;&atilde;o ao suic&iacute;dio, o que foi feito muito acertadamente pela Associa&ccedil;&atilde;o Internacional de Preven&ccedil;&atilde;o ao Suic&iacute;dio (Iasp) e pela Associa&ccedil;&atilde;o Brasileira de Psiquiatria (ABP).</p> <div class="text_footer"> <p><b>HUMBERTO CORR&Ecirc;A</b>, 45, &eacute; presidente da Comiss&atilde;o de Estudos e Preven&ccedil;&atilde;o ao Suic&iacute;dio da Associa&ccedil;&atilde;o Brasileira de Psiquiatria e representante no Brasil da Associa&ccedil;&atilde;o Internacional de Preven&ccedil;&atilde;o do Suic&iacute;dio</p><p>Os artigos publicados com assinatura n&atilde;o traduzem a opini&atilde;o do jornal. Sua publica&ccedil;&atilde;o obedece ao prop&oacute;sito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tend&ecirc;ncias do pensamento contempor&acirc;neo. <a href="mailto:debates@uol.com.br" target="_blank">debates@uol.com.br</a></p></div> <p>&nbsp;</p>


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