Mais de 90% dos casos de suicídios estão associados a doenças mentais

Publicado em:  09/09/2013

<p>V&eacute;spera do Dia Mundial de Preven&ccedil;&atilde;o ao Suic&iacute;dio, esta segunda-feira nos trouxe duas not&iacute;cias chocantes: as mortes do m&uacute;sico Champignon, 35, da banda Charlie Brown Jr. e de um casal e dois filhos de 2 e 7 anos em Cotia.</p><p>A suspeita da pol&iacute;cia &eacute; que Champignon tenha se matado, logo ap&oacute;s chegar em casa com a mulher, gr&aacute;vida de cinco meses. O cabeleireiro Claudinei Pedrotti J&uacute;nior, 39, teria matado a mulher e os dois filhos e depois se suicidado.</p><p>N&atilde;o quero me repetir, j&aacute; que na coluna da semana passada tratei sobre o tema suic&iacute;dio, mas simplesmente n&atilde;o d&aacute; para encarar esses dois fatos como meros casos de pol&iacute;cia, que logo ser&atilde;o arquivados porque n&atilde;o h&aacute; nada mais a fazer.</p><p>O assunto exige muito cuidado, principalmente da imprensa. H&aacute; v&aacute;rios registros mostrando que, dependendo do foco dado a uma reportagem sobre o tema, pode haver aumento no n&uacute;mero de casos de suic&iacute;dio.</p><p>Mas um bom jornalismo pode tamb&eacute;m ajudar a pessoas que se encontram sob risco de se matar, ou mesmo &agrave;quelas enlutadas pela perda de um ente querido que decidiu morrer. E mais: pode levar a discuss&atilde;o para a seara das pol&iacute;ticas p&uacute;blicas de sa&uacute;de, que muito t&ecirc;m a ver com isso.</p><p>Independentemente das motiva&ccedil;&otilde;es que levam ao suic&iacute;dio, existe um fator que liga a vasta maioria dos casos: as doen&ccedil;as mentais.<br /> Uma revis&atilde;o de 31 artigos cient&iacute;ficos publicados entre 1959 e 2001, englobando 15.629 suic&iacute;dios na popula&ccedil;&atilde;o em geral, demonstrou que em mais de 90% dos casos caberia um diagn&oacute;stico de transtorno mental &agrave; &eacute;poca da morte.</p><p>Os transtornos mentais mais associados ao suic&iacute;dio s&atilde;o: depress&atilde;o, transtorno do humor bipolar, depend&ecirc;ncia de &aacute;lcool e de outras drogas psicoativas. Esquizofrenia e certas caracter&iacute;sticas de personalidade tamb&eacute;m s&atilde;o importantes fatores de risco.</p><p>A situa&ccedil;&atilde;o e risco &eacute; agravada quando mais do que uma dessas condi&ccedil;&otilde;es combinam-se, como, por exemplo, depress&atilde;o e alcoolismo; ou ainda, a coexist&ecirc;ncia de depress&atilde;o, ansiedade e agita&ccedil;&atilde;o.</p><p>Infelizmente, muitas vezes os transtornos mentais n&atilde;o s&atilde;o detectados ou n&atilde;o s&atilde;o o adequadamente tratados. O pa&iacute;s ainda d&aacute; pouca aten&ccedil;&atilde;o para essa &aacute;rea. Entra governo e sai governo, as pol&iacute;ticas p&uacute;blicas para a sa&uacute;de mental s&atilde;o p&iacute;fias.</p><p>Em 2006, o Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de publicou uma portaria com as diretrizes do que seria um programa nacional de preven&ccedil;&atilde;o ao suic&iacute;dio. Entre as medidas estavam previstas campanhas para informar e sensibilizar a sociedade de que o suic&iacute;dio &eacute; um problema de sa&uacute;de p&uacute;blica que pode ser prevenido; organiza&ccedil;&atilde;o da rede de aten&ccedil;&atilde;o e interven&ccedil;&otilde;es nos casos de tentativas de suic&iacute;dio; educa&ccedil;&atilde;o permanente dos profissionais de sa&uacute;de da aten&ccedil;&atilde;o b&aacute;sica, inclusive do Programa Sa&uacute;de da Fam&iacute;lia, dos servi&ccedil;os de sa&uacute;de mental, das unidades de urg&ecirc;ncia e emerg&ecirc;ncia.</p><p>Um pote de doce de leite de Vi&ccedil;osa para quem adivinhar o que aconteceu com essa portaria sete anos depois? N&atilde;o saiu do papel, &eacute; claro. &Eacute; &oacute;timo informar a popula&ccedil;&atilde;o sobre como reconhecer uma doen&ccedil;a mental, derrubar preconceitos (doen&ccedil;a mental n&atilde;o &eacute; sin&ocirc;nimo de loucura, todos n&oacute;s estamos sujeitos a enfrent&aacute;-la em algum momento da vida), falar quais os tratamentos dispon&iacute;veis, sua efetividade etc. Agora, onde procurar apoio emocional e tratamento psiqui&aacute;trico para depress&atilde;o e outros transtornos que aumentam a cada dia?</p><p>O CVV ajuda e muito, mas n&atilde;o faz milagres. H&aacute; casos que precisam de interven&ccedil;&otilde;es com medicamentos e terapias comportamentais. Algu&eacute;m sabe me dizer a&iacute; onde tem um servi&ccedil;o p&uacute;blico de sa&uacute;de mental com vagas dispon&iacute;veis, que ofere&ccedil;a sess&otilde;es de terapia, antidepressivos, essas coisas que a gente lan&ccedil;a m&atilde;o quando o caldo entorna?</p><p>Nesses momentos de tristeza e espanto coletivo, &eacute; tamb&eacute;m uma &oacute;tima <nobr><a class="FAtxtL" href="http://www1.folha.uol.com.br/colunas/claudiacollucci/2013/09/1339205-mais-de-90-dos-casos-de-suicidios-estao-associados-a-doencas-mentais.shtml#" id="FALINK_1_0_0">oportunidade</a></nobr> para cobrar quem deveria estar cuidando da sa&uacute;de coletiva, especialmente da sa&uacute;de mental dos brasileiros.</p> <div class="biography"> <img alt="Avener Prado/Folhapress" height="70" src="http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/12304341.jpeg" width="70" /><p><b>Cl&aacute;udia Collucci</b> &eacute; rep&oacute;rter especial da <b>Folha</b>, especializada na &aacute;rea da sa&uacute;de. Mestre em hist&oacute;ria da ci&ecirc;ncia pela PUC-SP e p&oacute;s graduanda em gest&atilde;o de sa&uacute;de pela FGV-SP, foi bolsista da University of Michigan (2010) e da Georgetown University (2011), onde pesquisou sobre conflitos de interesse e o impacto das novas tecnologias em sa&uacute;de. &Eacute; autora dos livros &quot;Quero ser m&atilde;e&quot; e &quot;Por que a gravidez n&atilde;o vem?&quot; e coautora de &quot;Experimentos e Experimenta&ccedil;&otilde;es&quot;. Escreve &agrave;s quartas, no site.</p></div> <p>&nbsp;</p>


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