Publicado em: 26/10/2013
<p>Além do grande número de inscritos, o XXXI Congresso Brasileiro de Psiquiatria realizado em Curitiba será lembrado como o local que recebeu a primeira eleição direta para a diretoria da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). De acordo com o presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatria, André Rotta Burkiewicz, este fato aumenta bastante a responsabilidade da federada, que foi parceira na realização deste, que é um dos principais congressos da especialidade no mundo. "Assim como aconteceu em 2006, quando teve início a era dos grandes congressos na ABP, pois a estrutura e organização serviram de referência para os que vieram a seguir", afirma.</p><p> </p><p>De acordo com informações veiculadas na <a href="http://psiquiatria-pr.org.br/noticia.php?cod=2777">imprensa paranaense</a>, mais de 7 mil congressistas participaram do evento no período de 23 a 26 de outubro de 2013. Além disso, foi possível acompanhar o CBP online através do portal da psiquiatria e assistir gravações de vídeos e depoimentos disponíveis no canal da psiquiatria.</p><p> </p><p> </p><p>Mais de 600 atividades científicas e de atualização profissional ocorreram durante os quatro dias de evento. Além de representar a SPP proferindo discurso na abertura solene do XXXI CBP, Dr. André Rotta Burkiewicz presidiu a Mesa Redonda sobre neurociência translacional e prática clínica. A atividade foi realizada no último dia do Congresso, 26 de outubro, e a abordagem dos colegas foi sobre aperfeiçoamento, diagnóstico, evolução terapêutica e busca da prevenção. Neste mesmo dia, o vice-presidente da SPP, Alexandre Karam, acompanhou o debate sobre mitos relacionados à dependência química, coordenando a mesa redonda.</p><p> </p><p>De acordo com a ABP, varias entidades ligadas à área da saúde mental de âmbito nacional e internacional apoiaram o evento.</p><p> </p><p> </p><p><strong>Eleições diretas ABP </strong></p><p>Como as eleições diretas eleição para a Diretoria Plena e Conselho Fiscal da ABP para o triênio 2014 – 2016, acontecem pela primeira vez na ABP em 2013, foi feito um grande esforço de comunicação para orientar os associados a maneira como este processo ocorreria para que todos pudessem exercer o seu direito. O êxito deste esforço foi comprovado pelo significativo número de votos por correspondência recebidos na primeira etapa do processo eleitoral da ABP em 2013. Curitiba sediou a segunda etapa das eleições que aconteceu no dia 25 de outubro, durante o XXXI Congresso Brasileiro de Psiquiatria. O voto presencial foi exercido pelos associados quites que não tenham enviado o seu voto por correspondência. Concorriam ao pleito a Chapa 1, ABP Democrática, e a Chapa 2, ABP Plural. Informações sobre o resultado poderão ser obtidas no site da ABP: www.abp.org.br/portal</p><p> </p><p> </p><p><strong>Confira abaixo, a íntegra do discurso do presidente da SPP na abertura do CBP.</strong></p><p><em>Caros colegas psiquiatras, convidados, autoridades e demais presentes, quero agradecer e dar boas vindas a todos que estão na abertura deste trigésimo primeiro Congresso Brasileiro de Psiquiatria.</em></p><p><em>Mais uma vez Curitiba tem o privilégio de receber um dos principais congressos da nossa especialidade no mundo. Novamente nossa cidade será marcada na história da associação brasileira de psiquiatria. Em 2006, tivemos o início da era dos grandes congressos na ABP. A estrutura e organização daquele evento serviram de referência para os congressos que vieram a seguir. </em></p><p><em>Chegamos ao ano de 2013 e Curitiba será lembrada mais uma vez como a cidade onde ocorrerá a primeira eleição direta para a diretoria da ABP. Claro que este fato, assim como o anterior, aumentam bastante a nossa responsabilidade, mas também nos animam com a expectativa da capital paranaense ser mais uma vez marco na história da psiquiatria nacional. </em></p><p><em>Quando as comissões organizadora e científica definiram como tema do congresso CONTRIBUIÇÕES DA PSIQUIATRIA PARA O DESENVOLVIMENTO DA MEDICINA, houve algumas dúvidas sobre a abordagem deste tema, até mesmo questionamentos, mas com o passar deste ano pude ver que a temática tem uma representatividade muito maior do que pode parecer.</em></p><p> </p><p><em>Que a psiquiatria vem contribuindo cada vez mais para a medicina e outras ciências, isto é de conhecimento de todos nós - e certamente isto será demonstrado e reafirmado no decorrer deste evento. Porém existem outras contribuições, além da parte científica. Com o passar deste ano fomos observando uma série de acontecimentos que culminaram com o programa "Mais Médicos", do governo federal. Não quero aqui falar sobre fatos que a maioria presente conhece além do verdadeiro objetivo deste programa, mas quando os médicos perceberam o que estava ocorrendo e manifestaram-se de diferentes formas, adequadas ou não, observei que a psiquiatria tinha dado uma grande contribuição sobre isto, mas não fomos ouvidos pelas outras especialidades. </em></p><p> </p><p><em>Passados 12 anos da promulgação da lei 10.216, a realidade da saúde mental no Brasil continua a mesma ou pode até ter piorado em alguns aspectos. Neste período, a psiquiatria foi responsabilizada pelas condições dos hospitais psiquiátricos, mais de 100 mil leitos foram fechados em todo o Brasil, a procura pela nossa especialidade diminuiu e a formação profissional foi afetada. Hoje, não temos leitos suficientes para internar quadros psicóticos graves, tentativas de suicídio além de outras emergências psiquiátricas. Não vou nem contabilizar os dependentes de crack que estão sendo cada vez mais desassistidos pelos governos, independente de partido. Faltam psiquiatras até mesmo dentro dos planos de saúde, sem falar no SUS. Os leitos de CAPS são insuficientes, não foram abertos leitos em hospitais gerais como a lei determinava e nem outras estruturas que serviriam para compensar o fechamento daquelas vagas tanto na área pública quanto na particular. Após ocorrer este episódio na psiquiatria observou-se que éramos necessários, muitos de nós acabaram indo trabalhar em seus consultórios particulares, poucos ficaram no SUS, alguns permaneceram nos convênios por escolha própria. Será que o que ocorreu conosco não representará algo que poderá ocorrer com as outras especialidades após a instalação do "Mais Médicos"? </em></p><p><em>Outra contribuição, neste momento tão difícil para a categoria médica, está no contato com o paciente. Após os médicos serem demonizados por grande parte da imprensa, pois não soubemos agir frente à ação do governo e inicialmente não assumimos que faltavam médicos em determinados locais do Brasil. Tomamos atitudes que nos levaram a ser questionados por parte da população e, com isto, confirmamos que algo deve ser retomado pelos médicos, o VÍNCULO com o paciente. Motivo pelo qual nossa especialidade é a que proporcionalmente sofre menos processos e queixas, graças a esta virtude.</em></p><p><em>Auxiliamos a medicina, quando pesquisas demonstram cada vez mais que a presença de um serviço de interconsulta psiquiátrica ou profissionais de psiquiatria dentro do corpo clínico dos hospitais gerais reduzem custos, pois diminuem o tempo de internamentos de pacientes com comorbidades psiquiátricas, diminuem as intercorrências que podem agravar o quadro clínico do enfermo, melhoram a relação médico paciente quando abordamos os sintomas psiquiátricos dos doentes.</em></p><p><em>Estamos frente a um grande dilema no momento: será que devemos buscar apenas aspectos científicos para a melhora dos transtornos que nossos pacientes apresentam? Será que não devemos avaliar os aspectos relatados pelos pacientes e seguirmos um caminho que era seguido no passado, melhorando e desenvolvendo nossa capacidade de abordar o paciente e observar os aspectos descritivos e observacionais das doenças psiquiátricas? Será que a busca de marcadores biológicos e genéticos, usados de forma prioritária e não complementar, irão alterar nossa forma de tratar nosso paciente e, com isto, afastarão os mesmos e nós? Deixo estes questionamentos para que cada um de nós possa refletir.</em></p><p><em>Por fim, gostaria de deixar minha visão sobre o processo eleitoral que estamos passando dentro da ABP. É muito importante e deve ser analisado com muito cuidado tudo que está ocorrendo agora. Em diferentes momentos, a nossa associação se preocupou com visões diferentes de ver a psiquiatria e isto levou a uma grande instabilidade, divisões internas e até cisões. Temos de avaliar de que forma queremos crescer, cuidar para não olharmos apenas para o aspecto político, científico ou filosófico. Nenhum deles deve se sobrepor aos demais, pois perderemos a capacidade de percepção do que está ocorrendo em relação ao restante da sociedade. Devemos valorizar nossa ABP, não nos limitar à uma das diferentes formas de ver a psiquiatria que apresentam-se ao nosso redor neste período. Se não dialogarmos de forma equilibrada sobre o que pensamos como representatividade da psiquiatria, assim como avaliarmos nosso papel como participante da estrutura de assistência a saúde mental, poderemos ficar cada vez mais isolados e quando percebermos o que está ocorrendo ao nosso redor poderá ser tarde.</em></p><p><em>Agradeço a atenção de vocês e desejo um ótimo congresso a todos os participantes deste evento.</em></p><p> </p><p><em>Curitiba, 23 de outubro de 2013</em></p><p> </p><p><em>André Rotta Burkiewicz</em></p><p><em>Presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatria</em></p>