Brasil é o quinto país em mortes pelo consumo de álcool nas Américas

Publicado em:  08/03/2014

<p><img alt="Marcelo Elias/Gazeta do Povo / Alcoolismo atinge quase 6 milhões de brasileiros" src="http://www.gazetadopovo.com.br/midia/tn_620_600_saude_baixa_17214.jpg" title="Marcelo Elias/Gazeta do Povo / Alcoolismo atinge quase 6 milhões de brasileiros" /> <em class="legenda">Alcoolismo atinge quase 6 milh&otilde;es de brasileiros</em></p><p>A cada 100 mil mortes, 12,2 poderiam ser evitadas se n&atilde;o houvesse consumo de &aacute;lcool, mostra uma pesquisa realizada pela Organiza&ccedil;&atilde;o Pan-Americana da Sa&uacute;de (Opas). Por ano, o &aacute;lcool aparece na causa de morte de 80 mil pessoas nas Am&eacute;ricas. O Brasil tem a quinta maior taxa &ndash; a mais alta &eacute; a de El Salvador, com 27,4/100 mil mortes, e a mais baixa &eacute; a da Col&ocirc;mbia, com 1,8.</p><p>O estudo foi realizado entre 2007 e 2009 e os resultados foram publicados na revista Addiction em janeiro de 2014. Os dados examinados s&atilde;o de casos em que o &aacute;lcool foi especificamente mencionado na causa de morte &ndash; como doen&ccedil;as do f&iacute;gado vinculadas ao &aacute;lcool. Segundo as pesquisadoras, isso representa apenas &ldquo;a ponta do iceberg de um problema mais amplo&rdquo;.</p><p>Segundo o psiquiatra Marco Ant&ocirc;nio Bessa, entre outras causas de morte por uso de &aacute;lcool est&atilde;o acidentes de tr&acirc;nsito, afogamentos e a&ccedil;&otilde;es violentas provocadas por embriaguez. &ldquo;A depend&ecirc;ncia em &aacute;lcool n&atilde;o &eacute; o &uacute;nico dano provocado pelo consumo de bebidas&rdquo;, explica.</p><p>Dados do Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Dro&shy;&shy;gas Psicotr&oacute;picas no Brasil, realizado em 2005, mostram que o alcoolismo &eacute; uma doen&ccedil;a que atinge 5,8 milh&otilde;es de pessoas no pa&iacute;s.</p><p><strong>Destrui&ccedil;&atilde;o</strong></p><p>Segundo o professor de terapia ocupacional da UFPR Lu&iacute;s Felipe Ferro, que atua na &aacute;rea de sa&uacute;de mental, o alto consumo de &aacute;lcool pode causar danos no c&eacute;rebro, trato digestivo (incluindo p&acirc;ncreas e f&iacute;gado), cora&ccedil;&atilde;o, sangue, m&uacute;sculos e gl&acirc;ndulas hormonais. &ldquo;O uso cont&iacute;nuo pode causar ainda dem&ecirc;ncia alco&oacute;lica, preju&iacute;zo na mem&oacute;ria e capacidade de julgamento e pode at&eacute; alterar a personalidade do sujeito&rdquo;, acrescenta.</p><p>&ldquo;Uma das coisas que me assustou e me fez querer procurar tratamento foi como eu percebi que meu corpo e sa&uacute;de estavam sendo prejudicados. O m&eacute;dico falou que talvez n&atilde;o conseguisse engravidar. Fiquei com medo e comecei a repensar o que eu estava fazendo comigo&rdquo;, conta Elisa*, em processo de recupera&ccedil;&atilde;o h&aacute; cinco anos. Ela procurou ajuda m&eacute;dica e psiqui&aacute;trica e, algum tempo depois, foi para as reuni&otilde;es dos Alco&oacute;licos An&ocirc;nimos.</p><p><strong>Dificuldades</strong></p><p>Uma das maiores dificuldades de tratamento dos alco&oacute;latras &eacute; a nega&ccedil;&atilde;o da condi&ccedil;&atilde;o entre os doentes. Nesse processo, a fam&iacute;lia e amigos t&ecirc;m um papel essencial, conversando com o doente para conscientiz&aacute;-lo. Em seguida, &eacute; necess&aacute;rio encaminhar essa pessoa para o tratamento de sa&uacute;de &ndash; para ser tratado pelo SUS, &eacute; necess&aacute;rio passar por uma Unidade de Sa&uacute;de e, para tratamento particular, &eacute; necess&aacute;rio procurar m&eacute;dicos, psiquiatras ou grupos de ajuda.</p><p><strong>Ocupar o tempo destinado para a bebida &eacute; um grande passo </strong></p><p>Mudar o estilo de vida &eacute; um dos pontos mais dif&iacute;ceis do processo. &ldquo;Aos poucos a vida dos alco&oacute;latras volta-se para o consumo de &aacute;lcool. Parar de encontrar amigos no bar ou de ter atividades de lazer voltadas &agrave; bebida &eacute; fundamental&rdquo;, explica o psiquiatra Marco Ant&ocirc;nio Bessa. Outra parte da recupera&ccedil;&atilde;o &eacute; resolver os problemas que levam as pessoas a beber. &ldquo;&Eacute; necess&aacute;rio perceber e intervir nesses motivos para que os incentivos para beber fiquem menores&rdquo;, explica Lu&iacute;s Felipe Ferro, da UFPR.</p><p>A mudan&ccedil;a de h&aacute;bitos de vida faz parte tamb&eacute;m do trabalho realizado pelo AA. &ldquo;Os doze passos s&atilde;o um programa espiritual para promover a modifica&ccedil;&atilde;o da vida, ajudam as pessoas a encontrar um equil&iacute;brio e um crescimento&rdquo;, explica Wilson*, membro do grupo.</p><p>O trabalho do grupo se baseia tamb&eacute;m no compartilhamento das experi&ecirc;ncias pelas quais os membros passaram. &ldquo;Os depoimentos fazem com que eles se sintam mais motivados ao ver que outras pessoas passaram pelo mesmo que eles&rdquo;, explica Wilson, assinalando que o alcoolismo &eacute; uma doen&ccedil;a f&iacute;sica, emocional e espiritual.</p><p>Fernando*, que est&aacute; sem beber faz 19 anos, conta que evitou reca&iacute;das ocupando seu tempo. &ldquo;Quando eu sa&iacute;a do trabalho sempre tinha vontade de encontrar os amigos no bar. Ficar em casa n&atilde;o ajudava. Comecei a me inscrever em aulas, ir ao cinema, fazer cursos, academia&hellip; qualquer coisa que me tirasse de casa e ocupasse meu tempo&rdquo;. Para ele, esse processo foi muito importante. &ldquo;Tenho v&aacute;rios interesses e me divirto muito. N&atilde;o preciso mais beber&rdquo;, diz.</p><p>Uma dica do psiquiatra Bessa &eacute;, quando a pessoa se negar a procurar ajuda, os familiares a incentivarem a fazer outros tratamentos e adotar uma vida saud&aacute;vel. &ldquo;O paciente pode come&ccedil;ar o tratamento dos problemas de sa&uacute;de decorrentes do alcoolismo, fazer atividades f&iacute;sicas, ter h&aacute;bitos saud&aacute;veis. Isso reduz o espa&ccedil;o do &aacute;lcool na vida da pessoa&rdquo;, diz.</p><p><i>*os entrevistados preferiram n&atilde;o se identificar</i></p>


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