Publicado em: 02/04/2014
<p><em>Artigo escrito pelo ex-presidente da APPSIQ, Marco Antonio Bessa, que é doutor em Psiquiatria pela Unifesp e psiquiatra-chefe do Serviço de Psiquiatria Infantil do Hospital Pequeno Príncipe.</em></p><p>O autismo é um transtorno psiquiátrico descrito desde 1943 pelo psiquiatra Leon Kanner. É uma condição grave que afeta diversas áreas do desenvolvimento infantil, prejudicando, principalmente, as capacidades de interação social recíproca, da comunicação verbal e não verbal e do comportamento. Os prejuízos podem variar de formas leves a muito graves.</p><p>A criança ainda pequena pode apresentar, dentre muitas, as seguintes dificuldades: de manter contato visual direto com a mãe e as outras pessoas, interessar-se por outras crianças e gostar dos mesmos brinquedos ou brincadeiras. Há prejuízos na linguagem, como atraso ou ausência da fala, manifestação de um padrão repetitivo de interesses e atividades rotinas ou rituais inflexíveis, ou o hábito de agitar e torcer as mãos ou balançar repetidamente o corpo. A forma mais grave é a de isolamento total e indiferença às pessoas. Nas formas mais brandas, as crianças não procuram espontaneamente o contato social, mas aceitam ser procuradas sem oferecer resistência.</p><p>Estima-se que a prevalência do autismo infantil seja de 60 em cada 10 mil crianças, ou 0,5% da população mundial, na proporção de quatro meninos para uma menina. A causa do autismo é uma complexa interação entre fatores genéticos e ambientais.</p><p>Em maio de 2013, a Associação Psiquiátrica Americana apresentou novos critérios de classificação do autismo no Manual Estatístico e Diagnóstico 5. O autismo, agora, passa a integrar a categoria dos "transtornos do espectro autista", um dos transtornos do neurodesenvolvimento.</p><p>Embora seja um transtorno grave, conhecido há várias décadas, os transtornos do espectro autista ainda são pouco diagnosticados ou identificados com atraso. Boa parte dos casos é reconhecida quando o paciente já está com 3 ou 4 anos e perdeu um período importante de desenvolvimento em que o tratamento e a estimulação precoce poderiam oferecer um melhor prognóstico e melhor qualidade de vida para o indivíduo e para a família.</p><p>Durante o Congresso Brasileiro de Pediatria realizado em Curitiba em outubro passado, a residente de neuropediatria do Hospital Pequeno Príncipe Marília Matos aplicou um questionário a pediatras de todo o Brasil, avaliando o nível de informação sobre o autismo e seu diagnóstico. O resultado é preocupante, pois indica que mesmo entre especialistas da infância ainda existe desconhecimento sobre a doença: 13% deles, por exemplo, acreditam que a causa do autismo pode ser a falta de afetividade da mãe para com seu bebê, o efeito colateral de vacinas ou mesmo a reação a algum tipo de alimento.</p><p>Um recente estudo publicado no periódico científico Pediatrics demonstrou que, nos Estados Unidos, para uma família com um filho portador desse transtorno, os custos relativos aos cuidados de saúde, educação e terapias atingem US$ 17 mil, ou em torno de R$ 40 mil ao ano. É fácil imaginar as consequências desses custos para uma família brasileira.</p><p>Por tudo isso, nesse 2 de abril, Dia Mundial do Autismo, é imprescindível alertar a todos, inclusive médicos, em especial os pediatras, os profissionais de saúde e da educação e a população para a identificação precoce do autismo e a criação de centros especializados para o atendimento dessas crianças.</p>