Brasil registra aumento de 775% no consumo de Ritalina em dez anos

Publicado em:  11/08/2014

<p>O rem&eacute;dio &eacute; usado sobretudo em crian&ccedil;as e adolescentes, os mais afetados pelo transtorno. Para especialistas, a alta no uso do medicamento reflete maior conhecimento da doen&ccedil;a e aumento de diagn&oacute;sticos, mas tamb&eacute;m levanta o alerta de uso indevido da subst&acirc;ncia, at&eacute; por pessoas saud&aacute;veis que buscam aumentar o rendimento em atividades intelectuais.</p><p>Em sua tese de doutorado pela UERJ, defendida em maio, a psic&oacute;loga Denise Barros compilou os dados dos relat&oacute;rios anuais sobre subst&acirc;ncias psicotr&oacute;picas da Junta Internacional de Controle de Narc&oacute;ticos, &oacute;rg&atilde;o vinculado &agrave;s Na&ccedil;&otilde;es Unidas. De acordo com o levantamento, o volume de metilfenidato importado pelo Brasil ou produzido em territ&oacute;rio nacional passou de 122 kg em 2003 para 578 kg em 2012, alta de 373%.</p><p>A pesquisadora cruzou os dados da produ&ccedil;&atilde;o e importa&ccedil;&atilde;o e do estoque acumulado em cada ano, dado tamb&eacute;m dispon&iacute;vel nos relat&oacute;rios, para chegar aos prov&aacute;veis &iacute;ndices anuais de consumo. De acordo com o levantamento, foram 94 kg consumidos em 2003 contra 875 kg em 2012, crescimento de 775%.</p><p>Dados mais recentes obtidos pelo Estado na Ag&ecirc;ncia Nacional de Vigil&acirc;ncia Sanit&aacute;ria (Anvisa) confirmam a tend&ecirc;ncia de alta. Segundo o &oacute;rg&atilde;o, o n&uacute;mero de caixas de metilfenidato vendidas no Brasil passou de 2,1 milh&otilde;es em 2010 para 2,6 milh&otilde;es em 2013.</p><p>&ldquo;Houve um aumento da divulga&ccedil;&atilde;o da doen&ccedil;a e do n&uacute;mero de pessoas que passaram a ter acesso ao tratamento, mas h&aacute; outro fator importante, que &eacute; uma maior exig&ecirc;ncia social de administrar a aten&ccedil;&atilde;o.</p><p>A especialista lembra ainda que h&aacute; casos de adultos sem o transtorno que tomam o metilfenidato para melhorar a concentra&ccedil;&atilde;o e o foco nos estudos. &ldquo;Isso &eacute; comum entre concurseiros, vestibulandos, estudantes de Medicina. Pouco se fala sobre isso no Brasil, mas nos Estados Unidos e em algumas partes da Europa, esse uso inadequado j&aacute; &eacute; tratado como um problema de sa&uacute;de p&uacute;blica.&rdquo;</p><p>Diagn&oacute;stico. Para o psiquiatra infantil Rossano Cabral Lima, professor da UERJ, a alta no consumo &eacute; motivo de alerta porque o diagn&oacute;stico de TDAH nem sempre &eacute; acompanhado de uma investiga&ccedil;&atilde;o aprofundada das poss&iacute;veis causas do comportamento incomum da crian&ccedil;a.</p><p>&ldquo;Apesar de a medica&ccedil;&atilde;o ser importante em alguns casos, o diagn&oacute;stico r&aacute;pido de TDAH e o tratamento medicamentoso parecem ter se tornado a solu&ccedil;&atilde;o mais r&aacute;pida e f&aacute;cil de v&aacute;rios problemas, sem que a origem deles seja analisada a fundo&rdquo;, diz. &ldquo;N&atilde;o se questiona se a inquietude da crian&ccedil;a pode estar relacionada a alguma quest&atilde;o da escola, se &eacute; uma resposta a algo que ela n&atilde;o est&aacute; sabendo lidar.&rdquo;</p><p>Presidente da Associa&ccedil;&atilde;o Brasileira de Psiquiatria (ABP), Ant&ocirc;nio Geraldo da Silva, afirma que, apesar da alta no consumo, ainda h&aacute; milhares de brasileiros com TDAH sem tratamento. &ldquo;Com o crescimento do acesso &agrave; medica&ccedil;&atilde;o, estamos talvez come&ccedil;ando a adequar a propor&ccedil;&atilde;o de pessoas com o transtorno e pacientes tratados. Mas hoje, infelizmente, ainda temos subtratamento de TDAH.&rdquo;</p><p>O especialista cita um estudo publicado em 2012 na Revista Brasileira de Psiquiatria que apontou que apenas 19% dos brasileiros com TDAH fazem o tratamento com medica&ccedil;&atilde;o.</p>


TAGS


<< Voltar