Publicado em: 21/06/2016
<p>A Direção da Associação Paranaense de Psiquiatria (APPSIQ) repudia, em nome de todos os especialistas do Estado, a reportagem publicada na Gazeta do Povo em 19/06/2016 sob o título "<a href="http://www.gazetadopovo.com.br/saude/ritalina-e-usada-em-criancas-por-reacoes-adversas-e-nao-pelos-efeitos-terapeuticos-1u420hsfmgz4h38lrhtdpwfwi">Ritalina é usada em crianças por reações adversas e não pelos efeitos terapêuticos</a>”. Na notícia, a jornalista Laura Beal Bordin traz informações inverídicas à população, ao publicar apenas a opinião de uma pessoa contrária a décadas de estudos e evolução da Medicina, e a milhares de estudos científicos sérios, realizados no mundo inteiro, referentes a prevenção, diagnóstico e tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).</p><p> </p><p>O TDAH é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas em sua maioria ou ocasionado por fatores externos que provocam danos à funcionalidade cerebral, reconhecido oficialmente em todos os continentes e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). </p><p> </p><p>Ao contrário do que se divulga, não é um transtorno da moda ou recente. Os primeiros relatos de sintomas de TDAH datam de 1807 na Holanda, 1845 na Alemanha e 1858 na França. Como hipótese de transtorno médico, as investigações iniciaram em 1902, antes inclusive do autismo, que teve seus primeiros relatos médicos em 1908.</p><p>No Brasil, o Conselho Federal de Medicina e o Conselho Federal de Psicologia, que estão diretamente envolvidos com o tratamento do TDAH, reconhecem o transtorno e trabalham em prol dos pacientes.</p><p> </p><p>O diagnóstico do TDAH é clínico, assim como todos os outros transtornos psiquiátricos (depressão, síndrome do pânico, esquizofrenia, autismo, etc). É baseado em critérios claros e bem estabelecidos, avaliados pelo médico, tanto durante a consulta quanto também com informações complementares fornecidas pela escola e pelos familiares. Além da avaliação clínica, os sintomas podem ser evidenciados inclusive através de testagens neuropsicológicas, que mostram alterações na funcionalidade cerebral para tarefas específicas. O que os estudos mais recentes trazem para os mais desconfiados e incrédulos é que a ressonância magnética funcional e tomografia por emissão de pósitron também mostram alterações específicas e significativas na ativação e no funcionamento cerebral de quem tem TDAH em comparação com pessoas que não apresentam o transtorno.</p><p> </p><p>O quadro clínico se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade, não sendo necessário que todas essas esferas estejam prejudicadas ao mesmo tempo em todos os pacientes. Em alguns países, como nos Estados Unidos, portadores de TDAH são protegidos por lei e recebem tratamento diferenciado na escola. No Brasil, não é diferente: pacientes portadores de TDAH também tem seus direitos reconhecidos em lei e a eles é assegurado tempo diferenciado para realização de provas e tarefas, não apenas na escola e cursos, mas também em processos seletivos, como o vestibular e a prova do ENEM.</p><p> </p><p>Acredita-se que algumas pessoas insistem que o TDAH não existe pelas mais variadas razões, desde inocência, crenças pessoais rígidas e inflexíveis quanto a evolução médica e científica ou até mesmo má-fé. Medicina é ciência, não é ideologia. Não basta as pessoas quererem negar a existência de um fato, que o fará deixar de existir.</p><p> </p><p>Provavelmente há pacientes erroneamente diagnosticados com TDAH. E tal fato é possível de ocorrer em todas as áreas, não apenas médicas. Mas isto não faz com que o diagnóstico não seja válido.</p><p> </p><p>No Brasil, com base na quantidade de medicação vendida anualmente e na prevalência do transtorno, menos de 3% dos pacientes com TDAH estão corretamente diagnosticados e recebendo tratamento medicamentoso.</p><p> </p><p>A afirmação de que o tratamento do TDAH com medicamentos causa consequências terríveis, está baseada apenas convicções pessoais, sem suporte na literatura científica. Se analisarmos as conclusões das meta-análises publicada nos últimos dez anos, na maioria absoluta encontraremos conclusões favoráveis a respeito da eficácia do uso de estimulantes no tratamento do TDAH. </p><p> </p><p>Está comprovado cientificamente que os pacientes com TDAH não tratado cometem mais infrações de trânsito, apresentam mais fraturas ósseas, sofrem mais acidentes por quedas e intoxicações e envolvem-se com mais frequência em acidentes automobilísticos.</p><p> </p><p>O sofrimento e prejuízo de quem tem TDAH é muito significativo. Compromete o paciente na sua funcionalidade pessoal, no trabalho, nos relacionamentos, no ambiente familiar, nos estudos, enfim, nos vários aspectos simples ou complexos do dia a dia que exijam atenção e concentração.</p><p> </p><p>Nós, da APPSIQ, nos preocupamos com o modo como os pacientes portadores de TDAH vem sendo confundidos pela mídia. Este é um tema muito relevante e não pode simplesmente ser tratado de forma tão irresponsável e iatrogênica como foi abordado na entrevista em questão.</p><p> </p><p>A APPSIQ tem por base a responsabilidade e o respeito aos critérios científicos. Por isso, informamos que, em relação a eventuais conflitos de interesse, deixamos claro que não recebemos nenhum tipo auxílio ou incentivo da indústria farmacêutica para a elaboração desta nota.</p><p> </p><p> </p>