Publicado em: 25/04/2017
"Geralmente quem comete suicídio não quer morrer, é alguém que quer acabar com o seu sofrimento, com a sua dor", afirmou o vice-presidente da Capital da Associação Paranaense de Psiquiatria (APPSIQ), Marcelo Von der Heyde, durante sua participação na mesa redonda "O papel da mídia no caso da Baleia Azul e em situações de suicídio" na manhã desta terça-feira, dia 25 de abril. O evento, promovido pelo curso de Jornalismo da PUCPR e dirigido para estudantes, lotou o auditório Tristão de Ataíde, no térreo do bloco amarelo da PUCPR, que tem capacidade para duzentas pessoas. Participaram estudantes dos cursos de jornalismo, publicidade e propaganda, relações públicas, sociologia e psicologia.
Em sua fala, Marcelo Heyde fez referência aos dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) de que mais de 90% dos casos de suicídio estão relacionados com transtornos mentais, em particular a depressão, e que portanto a maioria poderia ser evitada se houvessem estratégias de prevenção mais acessíveis à sociedade. Por este motivo, fez uma contextualização histórica explicando que o chamado “Efeito Werher” remete a uma onda de suicídio na Alemanha em 1774 subsequente à divulgação inapropriada de casos de suicídio pela imprensa ou de histórias de suicídio nos meios de entretenimento. A despeito do conhecimento do “Efeito Werther”, o “Efeito Papageno” permanece desconhecido da sociedade. Por isso, a Associação Paranaense de Psiquiatria resolveu lançar o "Programa Papageno: como ajudar alguém com risco de suicídio?” com o intuito de contribuir com informações especializadas sobre o tema e auxiliar na prevenção. O nome Papageno faz referência ao personagem da obra de Mozart denominada “A Flauta Mágica” que, decidido em cometer suicídio, é salvo por três gênios que o ajudam e dão alternativas ao seu sofrimento. É isso que a APPSIQ está buscando: prevenir que novos casos aconteçam e reforçar a ideia de que alguém em sofrimento precisa de ajuda profissional. "Como a mídia pode noticiar fazendo com que se crie um efeito Papageno? Podemos dizer que é respondendo a essa pergunta que os jornalistas irão buscar a abordagem mais positiva, com fatores protetores à sociedade, em notícias sobre suicídio", explicou.
Além do diretor da APPSIQ, participaram do debate, que contou com a valiosa contribuição dos participantes com inúmeras perguntas, profissionais e professores de Jornalismo, Psicologia, Psiquiatria e de Sociologia. “O tema é delicado e exige muita responsabilidade dos profissionais da mídia. O curso de Jornalismo e a Escola de Comunicação precisam tratar o assunto com a atenção que ele merece. Afinal, o maior valor-notícia deve ser o de vida e os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) denotam a necessidade de se discutir o tema”, comentou a professora de Jornalismo da PUCPR, Criselli Montipó, uma das idealizadoras do evento e mediadora do debate.
A temática ganhou repercussão depois do registro de diversos casos de suicídio decorrentes do jogo Baleia Azul, que incita jovens a se machucarem e no final a tirarem sua própria vida. O assunto também está presente na série de 13 Reasons Why, exibida atualmente pelo Netflix, e que conta a história de uma jovem que cometeu suicídio e deixa fitas gravadas com os motivos que a fizeram tomar tal atitude.
Para o coordenador do curso de Jornalismo da PUCPR, professor Julius Nunes, é preciso que a mídia discuta todo tipo de assunto, mas da forma adequada, porque também é papel da comunicação auxiliar no processo educativo da sociedade. “Até pouco tempo existia uma espécie de convenção jornalística, de forma não oficial, que dizia que casos de suicídio não deveriam ser noticiados porque poderiam impulsionar pessoas pré-dispostas. O que não deve acontecer é uma discussão sensacionalista ou com detalhes sórdidos, mas precisamos sim discutir, porque se não fazemos da forma correta, nos meios de grande audiência, ouvindo especialistas e apresentando inclusive o que isso acarreta na vida familiar de quem pratica tal barbárie, outras pessoas, despreparadas, e em outros meios, como na internet, vão abordar o assunto e sob o viés que querem, como incitando tal prática”, concluiu.
Foto-legenda:
Debatedores participantes
Cristiano Luiz Freitas
Jornalista e especialista em cinema, com experiência na edição, produção de conteúdo para veículos impressos, tevê, rádio e plataformas digitais. Roteirista e produtor cultural, atua com projetos destinados ao público jovem há 18 anos. Tem conhecimento e ações nas áreas de MKT, eventos e também mídias sociais. Algumas iniciativas foram premiadas (Grande Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo) e outras tiveram destaque nacional (média-metragem, curtas exibidos no Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro e Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis).
Cloves Antonio de Amissis Amorim
Psicólogo formado pela Universidade Federal do Paraná. Especialista em Didática e em Bioética pela PUCPR. É mestre e Doutor em Educação pela PUCPR. Docente do Curso de Psicologia da PUCPR desde 1991. Coordena o Núcelo de Estudos em Tanatologia do Curso de Psicologia da Escola de Ciências da Vida da PUCPR. Co-autor de 22 livros e 30 artigos. Psicoterapeuta, orienta uma pesquisa sobre o efeito Werther.
Henrique Costa Brojato
Psicólogo, especialista em Psicopatologia Fenomenológica. Atualmente é psicólogo social pelo Grupo Marista.
Lindomar Wessler Boneti
Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutor em Sociologia pela Université Laval, Québec, Canadá. Possui Pós-Doutorado no Departamento de Ciências da Educação da Université de Fribourg, Suíça. Atualmente atua como Professor e Pesquisador do Curso de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação de Direitos Humanos e Políticas Públicas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná PUCPR.
Marcelo Heyde
Médico psiquiatra, professor de Psiquiatria e Psicologia da PUCPR. É vice-presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria. Supervisor da residência médica em Psiquiatria no HC da UFPR. Marcelo também coordena o “Papageno: como ajudar alguém com risco de suicídio?”.
Criselli Montipó (mediadora)
Jornalista, doutoranda e mestre em Jornalismo, especialista em Jornalismo Literário. Pesquisadora de temas relacionados aos fundamentos do jornalismo, narrativa jornalística, reportagem, cidadania e diversidade sociocultural. Professora de cursos de graduação e especialização.