Publicado em: 27/05/2017
O encontro de Saúde Mental da região noroeste do Estado começou na sexta-feira, dia 26 de maio, e está cumprindo seu propósito de aproximar médicos e residentes da Associação Paranaense de Psiquiatria – APPSIQ e ampliar o debate acerca da especialidade. A II Jornada Maringaense de Psiquiatria faz parte das comemorações do Jubileu de Ouro da APPSIQ e reuniu mais de 300 médicos, residentes, estudantes de Medicina e de outras áreas, além de profissionais que se interessam pelo estudo e debate acerca dos temas que tangem a Psiquiatria.
Em seu discurso de abertura, Dr. Felipe Pinheiro de Figueiredo, vice presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria na região noroeste e presidente da Jornada, enalteceu a cidade sede do evento apontando índices de desenvolvimento publicados recentemente para falar sobre qualidade de vida e rede de atendimento psiquiátrico em Maringá. “Vemos, em um evento como este, a importância do fortalecimento da Psiquiatria em um contexto onde a especialidade pode ser útil à população. Além disso, o cenário das Políticas Públicas de Saúde Mental no país não poderia ser mais desafiador para o debate”, afirmou. Promover atualização profissional daqueles que fazem diagnósticos e atuam no tratamento e prevenção dos principais transtornos mentais que atingem a população é uma das metas do evento. “Acreditamos que a área de saúde mental é uma das mais complexas e a que exige um olhar diferenciado dos profissionais de saúde, por isso que também é preciso ampliar o debate científico e social das consequências do estigma e do preconceito existentes na sociedade: a chamada Psicofobia”, completou.
“Queremos congregar e representar os psiquiatras do Paraná na defesa da boa prática profissional. Para isso, escolhemos representantes ativos e engajados que atuam em regiões estratégicas do Estado para compor a diretoria. Queremos que os vice presidentes trabalhem com autonomia para que a nossa entidade possa ajudar os psiquiatras de todas as regiões a exercerem a profissão com dignidade”, disse o presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria, Osmar Ratzke, em seu discurso. Na oportunidade, reforçou o convite aos psiquiatras e residentes para participarem do Jantar Comemorativo aos 50 anos de fundação da APPSIQ, que será realizado em Curitiba no mês de junho, e da X Jornada Paranaense de Psiquiatria, que ocorre em Londrina nos dias 22 e 23 de setembro.
O Secretário Municipal de Saúde de Maringá, Jair Francisco Pestana Biatto, apresentou dados a respeito da Rede de Psiquiatria para atender às pessoas com transtornos mentais e seus familiares de Maringá e se comprometeu em trabalhar para ampliar e agilizar a assistência.
O médico psiquiatra Adriano Moura de Menezes Dantas participou da abertura do evento como representante da Associação Psiquiátrica da América Latina – APAL – juntamente com o vice presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria no período de 2010 a 2016, Itiro Shirakawa, representando a ABP.
Programação científica

O psiquiatra especialista em dependência química e preceptor da residência em psiquiatria de São José dos Pinhais, Ricardo Manzochi Assmé, atual diretor secretário da APPSIQ, abriu as atividades científicas com a conferência “Tratamento farmacológico das dependências químicas”. Em sua aula, ele enfatizou a importância das intervenções farmacológicas não só para atenuar e prevenir a síndrome de abstinência, mas também para facilitar o engajamento nas intervenções psicossociais. Assmè apresentou fatores que devem ser considerados ao medicar pacientes com dependência química, como o fato de muitas vezes eles serem usuários de múltiplas substâncias psicoativas, de existir comorbidades psiquiátricas, os custos da medicação e indisponibilidade de medicamentos na rede pública, a questão das interações medicamentosas, etc.

Em seguida, o psiquiatra de Maringá, Claudio Vinicius Fritzen, coordenou a Mesa Redonda "Organização da rede de Atendimento Psiquiátrico: Piorou. E agora, onde posso internar?”. O médico psiquiatra e diretor técnico do Ambulatório de Psiquiatria, Hospital-Dia e dos Hospitais Psiquiátricos de Londrina CPL e Villa Normanda, Paulo Fernando Nicolau, iniciou as atividades apresentando um panorama com informações sobre legislação e dados sobre a assistência psiquiátrica no país. Em seguida fez questão de apontar o que considera como principais dificuldades para conseguir internar uma pessoa com doença mental e reforçou que há hoje uma asfixia financeira imposta pelo SUS aos hospitais psiquiátricos. “Nos últimos 15 anos, mais de 120 mil leitos psiquiátricos foram fechados no Brasil e essa escassez de leitos para internação não condiz com os números e estimativas da OMS com relação ao crescente adoecimento mental da população”, disse. O vice presidente da APPSIQ na Capital, Marcelo Daudt Von Der Heyde, que também é professor de psiquiatra da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e preceptor da residência médica em psiquiatra do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, fez uma contextualização histórica para falar sobre a Luta Antimanicomial, o fechamento dos leitos e hospitais psiquiátricos e apresentou comparativos sobre como é atenção primária, secundária e terciária no Brasil com Inglaterra, Canadá e EUA. Para fechar esta mesa de debates, o atual presidente da APPSIQ, Dr. Osmar Ratzke, um dos pioneiros da Psiquiatria paranaense, falou sobre a Clínica Heidelberg, a qual fundou em 1975 e da qual é o atual Diretor-Geral. A instituição particular é reconhecida até hoje como uma das primeiras no Brasil a oferecer o serviço de Hospital-Dia, a primeira residência oficial e um dos únicos Pronto-Atendimentos Psiquiátricos 24 horas do Estado.
O evento segue até sábado, dia 27 de maio, e reúne renomados especialistas de cada subespecialidade e influentes psiquiatras do Brasil para ampliar o debate de questões da prática clínica, novos medicamentos e tratamentos, e dilemas ético-profissionais. Temas polêmicos e que muitas vezes ainda são considerados tabu na sociedade farão parte da programação científica. Suicídio, medicamento para crianças e adolescentes, incapacitação por doença mental – os chamados aspectos controversos na Psiquiatria forense, dependência química de álcool e outras drogas, e transtornos psicóticos. Além disso, o novo coordenador de saúde mental do Ministério da Saúde, Dr. Quirino Cordeiro Júnior, prestigiará a II Jornada Maringaense de Psiquiatria e falará sobre Saúde Mental na Saúde Pública e a Rede de Atendimento Psiquiátrico. Além dele, o Doutor em Saúde da Criança e do Adolescente, Gustavo Manoel Schier Dória, também prestigiará os participantes da Jornada falando um pouco sobre a polêmica que envolve a medicação em psiquiatria infanto-juvenil.
Encontro das ligas


Na tarde de 26 de maio, aconteceu o I Encontro Paranaense das Ligas Acadêmicas de Psiquiatria e Saúde Mental e os acadêmicos puderam trocar experiências sobre funcionamento, objetivo e ações que são realizadas. Além disso, como parte do propósito deste encontro, que era discutir o papel das Ligas Acadêmicas de Psiquiatria e Saúde Mental no Ensino Médico, os estudantes apresentaram propostas para a APPSIQ e a ABP. “Esperamos que as entidades possam intermediar para que psiquiatras sejam preceptores e supervisores em todas as escolas médicas, intervir junto às Faculdades de Medicina para ampliar a Psiquiatria no currículo do curso e manter a proximidade com as ligas para promover ações e campanhas conjuntas”, explicou Rafaela Rodrigues Cortez, presidente da Liga de Saúde Mental da Unicesumar (Lasmuc). A atividade reuniu ainda representantes da Liga Acadêmica de Psiquiatria de Cascavel (LAPSIC) da FAG (Faculdade Assis Gurgacz), Liga Acadêmica de Psiquiatria de Curitiba (LAPSI) pela PUC-PR e Liga Acadêmica de Psiquiatria (LAPSIQ) da UEM.
Como parte do encontro, foi realizada apresentação de trabalhos científicos produzidos por jovens da região noroeste que exibiram pôsteres e realizaram apresentação oral. No dia seguinte, 27 de maio, os três melhores receberam premiação inédita. Tamara Marrega, autora do trabalho intitulado "Conquistando a adesão em adolescente portador de HIV/AIDS em trabalho conjunto com unidade básica de saúde: um relato de caso", foi premiada em terceiro lugar, Gabriela Marengone Altizani, autora do trabalho intitulado "Estratificação de risco como provável divisor de águas na rede de cuidados à criança em sofrimento mental", foi premiada em segundo lugar, e Lucas Dias de Oliveira, autor do trabalho intitulado "A influência da utilização de uma estratificação de risco no tempo para o atendimento em um CAPs infanto-juvenil", foi premiado em primeiro lugar.